Dra Leticia Couto

Imagem ilustrativa de omeprazol

Uso Prolongado de Inibidores de Bomba de Prótons (IBP): Benefícios, Riscos e Cuidados

Os Inibidores de Bomba de Prótons (IBP) revolucionaram o tratamento de doenças do estômago e do esôfago, como a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), úlcera péptica e no auxílio à erradicação da Helicobacter pylori. Desde que começaram a ser usados na prática médica há mais de 30 anos, se tornaram uma das classes de medicamentos mais prescritas no mundo.

Eles atuam reduzindo a produção de ácido pelo estômago, favorecendo a cicatrização e o alívio dos sintomas. No entanto, o uso prolongado e sem acompanhamento médico pode trazer riscos que precisam ser conhecidos.


O que são e para que servem os IBP?

Os IBP – como omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, esomeprazol e rabeprazol – agem bloqueando a “bomba de prótons” das células do estômago, mecanismo responsável pela liberação de ácido. Assim, reduzem a acidez e protegem a mucosa gástrica.

Indicações mais comuns:

  • Refluxo gastroesofágico

  • Úlcera gástrica e duodenal

  • Gastrite erosiva

  • Prevenção de lesões gástricas por anti-inflamatórios

  • Tratamento auxiliar na erradicação da H. pylori


Riscos do uso prolongado de IBP

Embora sejam seguros quando usados corretamente, estudos recentes alertam para potenciais efeitos adversos quando utilizados por longos períodos.

1. Deficiência de vitaminas e minerais

  • Vitamina B12: precisa do ácido gástrico para ser absorvida. A redução da acidez pode dificultar esse processo, levando à deficiência.

  • Cálcio: o ácido ajuda a solubilizar o cálcio. Baixos níveis podem prejudicar a saúde óssea e aumentar o risco de osteoporose.

  • Ferro: o pH ácido é importante para a absorção do ferro; seu bloqueio pode causar deficiência.

  • Magnésio: a deficiência é rara, mas pode ocorrer, principalmente em uso prolongado e em pessoas com outras doenças.


2. Risco aumentado de infecções

O ácido gástrico funciona como uma barreira natural contra micro-organismos. Com a acidez reduzida, há maior chance de:

  • Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO)

  • Infecção por Clostridioides difficile

  • Infecções intestinais por bactérias como Salmonella e Campylobacter


3. Possível impacto na saúde óssea

Alguns estudos mostram associação entre uso crônico de IBP e aumento do risco de fraturas, especialmente em coluna e quadril. A relação não é totalmente comprovada, mas o cuidado deve ser maior em pessoas com osteoporose.


4. Doenças renais

Há relatos de relação entre IBP e nefrite intersticial (inflamação nos rins) que, não tratada, pode evoluir para doença renal crônica. O risco é maior em idosos e em uso prolongado.


5. Outras associações estudadas

  • Demência: estudos iniciais sugeriram relação, mas revisões mais recentes não confirmaram associação significativa.

  • Alterações cardiovasculares: atenção especial em pacientes que usam antiagregantes como clopidogrel, pois pode haver interação medicamentosa (dependendo do tipo de IBP).

  • Rebote ácido: a suspensão abrupta pode causar retorno aumentado da acidez, gerando sintomas intensos.


Uso racional e seguro dos IBP

De acordo com as evidências científicas:

  • Usar na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível

  • Revisar periodicamente a necessidade de continuar o tratamento

  • Evitar a automedicação

  • Avaliar reposição ou monitoramento de vitaminas e minerais em tratamentos prolongados

  • Em casos de longo uso, considerar alternativas ou ajustes na dose sob supervisão médica


Conclusão

Os IBP são medicamentos valiosos, que proporcionam grande alívio e melhora na qualidade de vida de milhões de pessoas. Porém, seu uso contínuo sem acompanhamento pode trazer riscos. A decisão de iniciar, manter ou suspender o tratamento deve ser sempre feita com orientação médica, avaliando os benefícios e possíveis efeitos adversos.

Se você faz uso diário de omeprazol ou outro IBP há mais de alguns meses, converse com seu gastroenterologista para verificar se o tratamento ainda é necessário ou se há opções mais seguras para o seu caso.

 

Referências: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35830032/

Dra Letícia Couto-gastroenterologista

Como a Dra. Letícia pode ajudar?
A Dra. Letícia Couto é médica gastroenterologista, especialista em doenças do aparelho digestivo como gastrite, refluxo, SIBO, síndrome do intestino irritável e intolerâncias alimentares. Seu atendimento é particular, humanizado e sem pressa, com foco em diagnóstico preciso e tratamento personalizado para cada paciente.

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